O Nuclear volta à Agenda. Volta-se a por a hipótese na mesa e abundam as opiniões. Da última vez foram um empresário, Patrick Monteiro de Barros, e um ex-secretário de estado, Pedro Sampaio Nunes, após uns anos em Bruxelas que trouxeram a ideia. Agora foi o Governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio. Sim, é verdade que o maior expert português, Carlos Varandas, apoia as iniciativas. (espero não ter cometido nenhuma gaffe nos nomes e títulos).
A grande questão do nuclear para mim assenta em dois pilares: a segurança, e a autonomia energética. O que acho curioso é que estes relançamentos do tema têm sempre um cariz económico, e só tocam ao de leve nos problemas de fundo que uma discussão e debate esclarecidos precisavam. Não deixa de ser curioso então o timing deste último anúncio, mas às vezes o timing prega partidas... adiante explico.
Sobre a segurança há duas vertentes a ter em conta. Uma é a Probabilidade de acontecer um acidente. Outra é o Impacto desse acidente. A primeira tem conhecido felizmente avanços significativos e notáveis. A tecnologia hoje permite reduzir muito a probabilidade de um acidente ocorrer. Infelizmente não é o mesmo caso no impacto. Claro que há melhorias nas técnicas de contenção de acidentes, mas a verdade é que as consequências são as mesmas dos famosos casos infelizes que marcam a história. A análise de risco toma o produto destas duas vertentes, no fundo a àrea de um rectângulo cujos lados lhes são proporcionais. Temos agora um rectângulo estreitinho, mas na mesma muito alto. No fundo, é menos provável que algo aconteça, mas caso aconteça... E reparem que a segurança apenas parcialmente se refere à central em si. Temos que falar de segurança no transporte do combustível, no transporte dos resíduos, no armazenamento dos resíduos, e no processo de desmantelamento de uma central após o seu tempo de vida.
A independência energética é para mim o mais marcante dos pilares. Por um lado é verdade que se consiguiria a independência do petróleo ou do gás natural, mas apenas a troco da depência por outro combustível, o nuclear. Também é verdade que em Portugal existem recursos naturais de minério, mas a verdade é que não temos capacidade de os refinar. Reparem que o Irão andam há décadas a tentar conseguir essa tecnologia. O problema é que a capacidade de refinação permite o uso militar da tecnologia. E por outro lado, se os nossos recursos fossem tão vastos, porque motivo estão abandonados hoje? Certamente não faltariam interessados. Trocar os poluentes hidrocarbonetos pelos perigosos nucleares, é uma escolha difícil, mas o paradigma da dependência mantém-se!
Haveria ainda livros para escrever sobre o tema, para as questões das qualificações, do erro humano, da ameaça a atentados, da já existência de centrais nos cursos de água que chegam a Portugal, do uzo da energia produzida para os transportes, da diagrama de produção e consumo de energia, entre muitos.
Mas o que motivou a este post foi o Timing!
É que entende-se a intenção de anunciar a ideia do Nuclear num pico do preço do petróleo. Os orçamentos estão no limite e o cinto apertado, muitos começam a vacilar.
Mas estas coisas do Timing são imprevisíveis. Reparem só:
Reuters, 8 Julho 2008 France's Areva says uranium leaked into river
Reuters, 23 Julho 2008 New contamination incident at French nuclear site
De facto, Julho de 2008 foi a pior altura possível, e Brown e Sarkozy que andavam com ideias semelhantes já tiveram que as voltar a guardar na gaveta. Voltarão a sair na Primavera de 2009? Até lá gostava que se debatesse a sério pelo menos os pilares de que falei.
Sorry, but this will be a much shorter version of the above. Summing up, the Governor of the Portuguese National Bank (the local version of the European Central Bank) decided to copycat Gordon Brown and Sarkozy, and suggest the nuclear alternative for electrical energy generation. (Portugal has none nuclear power plants, though there are a few on the spanish border, on rivers flowing into Portugal). It is plain to see how well timed this ideas were, however recent incidents in a French Power Plant, Tricastin, may well put these ideas back in the drawer.