A pergunta que vai dia 11 deste mês a referendo é:
«Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?»
A pergunta não é:
"Acha que mulheres devem ser enviadas para a cadeia por abortar?"
"Acha que a pena de prisão é a pena mais ajustada?"
"Quer uma vida justa e digna para as mulheres?"
"A mulher tem os mesmos direitos que o Homem?"
"É contra as mulheres serem criminosas?"
"A mulher pode fazer tudo o que lhe apetecer com o corpo?"
"A vida humana só começa depois das 10 semanas?"
"Quer acabar com o aborto clandestino?"
(O aborto clandestino custa 25€, feito por comprimidos, disponível pela Women on Waves)
A pergunta a referendo não é nenhuma dessas.
A pergunta que vai a referendo é se o acto de interromper uma gravidez por vontade da mulher deve ou não ser penalizado. Não as mulheres, mas o acto. Se este acto é portanto condenável ou não.
Ninguém quer mulheres na prisão, nem aborto clandestino, ninguém quer isso. E também poucos querem a Interrupção de Gravidez (apenas em casos de extrema necessidade a defendem).
O que para mim é extraordinário é que ambas as facções em contenda (ou a esmagadora maioria destes) concordam com a actual Lei para depois das 10 semanas. Ou seja que a Interrupção de Gravidez deve ser punida, excepto em determinadas circunstâncias. O que de mágico acontece entre a semana 9 e a 11 é que ninguém explica.
O que me deixa indeciso:
Concordo com o combate ao aborto clandestino? Sim!
Concordo a criação de condições no SNS ou clínicas para que quem realmente precise possa abortar? Sim, isso já acontece, talvez houvesse outras excepções que a Lei pudesse considerar.
Concordo que quem se submeta a uma IVG, deva prestar serviço comunitário em Lares de terceira idade ou apoiar financeiramente instituições sem fins lucrativos de apoio a grávidas ou famílias carenciadas? Obviamente e absolutamente. É uma pena ajustada.
Concordo com o pressuposto na pergunta em Referendo? Tenho muitas dúvidas se será o "Sim" ou o "Não" a melhor escolha, os argumentos das duas partes são extremistas e disparatados. Só vejo advogados e juristas a discutir quando começa a vida, e profissionais de saúde a discutir a aplicabilidade de Leis, economistas a falar de danos psicológicos, e psicólogos a comparar custos e estatísticas. Não deixa de ser curiosa a posição sem excepção que têm as organizações de apoio a grávidas e famílias carenciadas, que trabalham todos os dias quase sem recursos e muitas vezes na base do voluntariado. Terão medo de ficar sem trabalho, ou será que acreditam no que fazem?
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e qd o "SIM" ganhar dia 11, cá estarei no dia 12 para exigir ao governo a melhor regulamentação possível, por exemplo no seguimento da proposta de Maria de Belém Roseira.
Com os meus cumprimentos.